domingo, 7 de abril de 2013

Na Terra do Conhecimento


 Que tornou-se um jargão o enunciado que afirma vivermos em uma era do conhecimento é sabido por grande maioria. As consequências e os significados desse título, todavia ainda permanecem desconhecidos pela mesma maioria que o sustenta. O que é, portanto, essa era? E quais as suas implicações no âmbito das relações humanas?
Deparei-me nesta semana – finalmente - com uma quantidade imensa de informações as quais temos acesso através da internet. Na minha página inicial: notícias sobre a Coreia do Norte, um filme brasileiro estrelando, a crise financeira de Portugal e, é claro, reportagens de todos campeonatos existentes de futebol e propagandas. Por mais que poderia ter acesso a elas, mudei rapidamente de site e sequer as li.
Daí, uma primeira consideração importante que chamarei paradoxo de Zenão cibernético. Isto é, têm-se a oportunidade hoje de saber o que ocorre em qualquer canto do globo muito rapidamente, o que poderia nos aproximar, assim, dessas regiões. Entretanto, parece que sentimo-nos cada vez mais distantes delas por essa mesma oportunidade. Frente a frente com manchetes do mundo todo toda vez que se entra na internet, curiosamente ficamos em nosso próprio país, que muitas vezes é menor ainda, embora ausente de limites geográficos.
Em outras palavras, o fenômeno de poder ter acesso a informações de todos os cantos do mundo não garante, necessariamente, aproximarmo-nos deles. Ao contrário, tendo a Terra na superfície de um notebook, mais distante fica ela de realmente ser conhecida e, pior, experienciada. É difícil experienciarmos o mundo, apesar de termos um poder maior de informações para fazê-lo. Poder esse que nos caracteriza. Conhecemos – suspira orgulhoso o homem contemporâneo, homem que diminui-se para enaltecer suas obras.
Ora, é corrente que na Modernidade ao menos a Filosofia voltou-se fortemente para a questão do sujeito e o fortificou, principalmente com o Cogito de Descartes e o sujeito transcendental kantiano. Contudo, a capacidade humana de conhecer naquela época foi atentamente criticada, no sentido de que a própria ciência experimental e a necessidade de instrumentos nasce da imperfeição do entendimento humano para por si só entender a natureza. Ademais, não é raro os autores desse período retomarem sentenças demonstrando o quão pouco longe pode se estender nosso conhecimento.
Assim, embora os autores modernos tenham trazido diversos problemas para a contemporaneidade, como a separação mente-corpo que a filosofia do século XX preocupou-se em diluir; eles trouxeram também diversas contribuições, acompanhadas por uma crítica do que o ser humano podia conhecer.
Nesse sentido, não estaríamos confiando demasiadamente no poder de nosso entendimento sem uma crítica, ou seja, um estudo que demonstre os seus limites concomitante as nossas pesquisas? Não poderemos, caso sigamos dessa maneira, idolatrar novamente a razão humana, mas agora uma razão que não está em um sujeito, mas em um ato cego por conhecer? O maquinista que anteriormente era maior que o trem dirigido, não está agora escondido inflando o próprio trem que não sabe onde se dirige? E enquanto isso, quantas pessoas e animais não-humanos tal trem atropelará em suas crises, guerras e hobbies?
Melhor: na era do conhecimento, onde fica quem conhece?