Que tornou-se um jargão o enunciado que afirma vivermos em uma era
do conhecimento é sabido por
grande maioria. As consequências e os significados desse título,
todavia ainda permanecem desconhecidos pela mesma maioria que o
sustenta. O que é, portanto, essa era? E quais as suas implicações
no âmbito das relações humanas?
Deparei-me nesta semana –
finalmente - com uma quantidade imensa de informações as quais
temos acesso através da internet. Na
minha página inicial: notícias sobre a Coreia do Norte, um filme
brasileiro estrelando, a crise financeira de Portugal e, é claro,
reportagens de todos campeonatos existentes de futebol e propagandas.
Por mais que poderia ter acesso a elas, mudei rapidamente de site e
sequer as li.
Daí, uma primeira consideração
importante que chamarei paradoxo de Zenão cibernético.
Isto é, têm-se a oportunidade
hoje de saber o que ocorre em qualquer canto do globo muito
rapidamente, o que poderia nos aproximar, assim, dessas regiões.
Entretanto, parece que sentimo-nos cada vez mais distantes delas por
essa mesma oportunidade. Frente a frente com manchetes do mundo todo
toda vez que se entra na internet, curiosamente ficamos em nosso
próprio país, que muitas vezes é menor ainda, embora ausente de
limites geográficos.
Em outras palavras, o fenômeno de
poder ter acesso a informações de todos os cantos do mundo não
garante, necessariamente, aproximarmo-nos deles. Ao contrário, tendo
a Terra na superfície de um notebook,
mais distante fica ela de realmente ser conhecida e, pior,
experienciada. É difícil experienciarmos o mundo, apesar de termos
um poder maior de informações para fazê-lo. Poder esse que nos
caracteriza. Conhecemos – suspira orgulhoso o homem contemporâneo,
homem que diminui-se para enaltecer suas obras.
Ora, é corrente que na Modernidade
ao menos a Filosofia voltou-se fortemente para a questão do sujeito
e o fortificou, principalmente com o Cogito de
Descartes e o sujeito transcendental kantiano. Contudo, a capacidade
humana de conhecer naquela época foi atentamente criticada, no
sentido de que a própria ciência experimental e a necessidade de
instrumentos nasce da imperfeição do entendimento humano para por
si só entender a natureza. Ademais, não é raro os autores desse
período retomarem sentenças demonstrando o quão pouco longe pode
se estender nosso conhecimento.
Assim, embora os autores modernos tenham trazido diversos problemas
para a contemporaneidade, como a separação mente-corpo que a
filosofia do século XX preocupou-se em diluir; eles trouxeram também
diversas contribuições, acompanhadas por uma crítica do que o ser
humano podia conhecer.
Nesse sentido, não estaríamos
confiando demasiadamente no poder de nosso entendimento sem uma
crítica, ou seja, um estudo que demonstre os seus limites
concomitante as nossas pesquisas? Não poderemos, caso sigamos dessa
maneira, idolatrar novamente a razão humana, mas agora uma razão
que não está em um sujeito, mas em um ato cego por conhecer? O maquinista que anteriormente era
maior que o trem dirigido, não está agora escondido inflando o
próprio trem que não sabe onde se dirige? E enquanto isso, quantas
pessoas e animais não-humanos tal trem atropelará em suas crises,
guerras e hobbies?
Melhor: na era do
conhecimento, onde fica quem
conhece?
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